A ética da formação de professores numa educação de salário mínimo

Não sei se esse é o momento certo para se falar de ética ou se esse é um conceito fora de moda, cafona para os dias de hoje. Quando me disseram que deveria fazer uma palestra sobre assunto de minha escolha, na oportunidade de vir até aqui para participar de uma Banca de Exame de Dissertação de Mestr...

ver descrição completa

Na minha lista:
Detalhes bibliográficos
Autor principal: Morais, Gizelda Santana de
Formato: Online
Idioma:por
Publicado em: Portal de Periódicos Eletrônicos da UFRN
Endereço do item:https://periodicos.ufrn.br/educacaoemquestao/article/view/10391
Tags: Adicionar Tag
Sem tags, seja o primeiro a adicionar uma tag!
id oai:periodicos.ufrn.br:article-10391
record_format ojs
spelling oai:periodicos.ufrn.br:article-103912019-06-27T17:04:25Z A ética da formação de professores numa educação de salário mínimo Morais, Gizelda Santana de Não sei se esse é o momento certo para se falar de ética ou se esse é um conceito fora de moda, cafona para os dias de hoje. Quando me disseram que deveria fazer uma palestra sobre assunto de minha escolha, na oportunidade de vir até aqui para participar de uma Banca de Exame de Dissertação de Mestrado, fiquei em dúvida, a princípio, sobre o tema a abordar e foi a própria dissertação examinada que me sugeriu permanecer no âmbito do problema da formação dos professores no Brasil. E de pronto me surgiu um título como âncora para a reflexão com os presentes: a ética da formação dos professores numa educação de salário mínimo. Mas, para não parecer deboche, resolvi mudar o título para: a ética da formação de professores em tempos de crise. Isto não muda em nada a realidade à qual eu quero me referir pois, a expressão educação de salário mínimo me parece bastante apropriada para caracterizar o estágio atual em que se encontra a educação pública e fundamental no Brasil. Por um lado a população que freqüenta as escolas públicas de primeiro grau vem das camadas cuja renda é predominantemente o salário mínimo e, por outro, os professores que aí ministram o ensino (cuja maior fatia está entregue aos municípios) raramente chegam a essa faixa de salário, embora reze a nossa mais recente Constituição, em seu artigo 7, que é um direito do trabalhador rural e urbano o salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, etc, etc... Também não é fora de propósito se falamos de educação em tempos de crise, mesmo que alguns possam me contestar dizendo que a nossa educação nunca esteve sem crises. Sim, podemos aceitar que nunca nesse domínio tivemos boas estatísticas mas, para citar apenas o exemplo de uma pesquisa realizada no Estado de Sergipe, foi constatado que, em 1930, os professores primários, diplomados pela Escola Normal, se distribuíam por povoados, vilas e cidades, e recebiam salários que atingiam em média cerca de 50% dos salários dos juízes de direito, enquanto em 1980 a relação chega apenas a aproximadamente 8%. Perderam os professores em salário, em respeito e valorização social pois inúmeros depoimentos comprovam que juízes, padres e professores eram, outrora, as maiores autoridades nas cidades e vilas. Podem me contestar que sem dúvida houve uma democratização do ensino, e hoje qualquer criança tem acesso à escola, o que não ocorria antigamente. Sim, mas a que escola têm eles acesso? A uma escola que perdeu os seus objetivos, que não reconhece as suas finalidades? Justamente sobre este aspecto é que vou me deter em primeiro lugar, isto é, sobre as finalidades da escola, para, em seguida, discutir com vocês um segundo aspecto que seria: a procura de uma ética capaz de guiar a ação de formar professores no contexto atual. Portal de Periódicos Eletrônicos da UFRN 1996-12-15 info:eu-repo/semantics/article info:eu-repo/semantics/publishedVersion application/pdf https://periodicos.ufrn.br/educacaoemquestao/article/view/10391 Revista Educação em Questão; v. 6 n. 2 (1996): jul./dez. 1996; 39-50 1981-1802 0102-7735 por https://periodicos.ufrn.br/educacaoemquestao/article/view/10391/7344
institution Periódicos UFRN
collection Portal de Pediódicos Eletrônicos da UFRN
language por
format Online
author Morais, Gizelda Santana de
spellingShingle Morais, Gizelda Santana de
A ética da formação de professores numa educação de salário mínimo
author_facet Morais, Gizelda Santana de
author_sort Morais, Gizelda Santana de
title A ética da formação de professores numa educação de salário mínimo
title_short A ética da formação de professores numa educação de salário mínimo
title_full A ética da formação de professores numa educação de salário mínimo
title_fullStr A ética da formação de professores numa educação de salário mínimo
title_full_unstemmed A ética da formação de professores numa educação de salário mínimo
title_sort ética da formação de professores numa educação de salário mínimo
description Não sei se esse é o momento certo para se falar de ética ou se esse é um conceito fora de moda, cafona para os dias de hoje. Quando me disseram que deveria fazer uma palestra sobre assunto de minha escolha, na oportunidade de vir até aqui para participar de uma Banca de Exame de Dissertação de Mestrado, fiquei em dúvida, a princípio, sobre o tema a abordar e foi a própria dissertação examinada que me sugeriu permanecer no âmbito do problema da formação dos professores no Brasil. E de pronto me surgiu um título como âncora para a reflexão com os presentes: a ética da formação dos professores numa educação de salário mínimo. Mas, para não parecer deboche, resolvi mudar o título para: a ética da formação de professores em tempos de crise. Isto não muda em nada a realidade à qual eu quero me referir pois, a expressão educação de salário mínimo me parece bastante apropriada para caracterizar o estágio atual em que se encontra a educação pública e fundamental no Brasil. Por um lado a população que freqüenta as escolas públicas de primeiro grau vem das camadas cuja renda é predominantemente o salário mínimo e, por outro, os professores que aí ministram o ensino (cuja maior fatia está entregue aos municípios) raramente chegam a essa faixa de salário, embora reze a nossa mais recente Constituição, em seu artigo 7, que é um direito do trabalhador rural e urbano o salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, etc, etc... Também não é fora de propósito se falamos de educação em tempos de crise, mesmo que alguns possam me contestar dizendo que a nossa educação nunca esteve sem crises. Sim, podemos aceitar que nunca nesse domínio tivemos boas estatísticas mas, para citar apenas o exemplo de uma pesquisa realizada no Estado de Sergipe, foi constatado que, em 1930, os professores primários, diplomados pela Escola Normal, se distribuíam por povoados, vilas e cidades, e recebiam salários que atingiam em média cerca de 50% dos salários dos juízes de direito, enquanto em 1980 a relação chega apenas a aproximadamente 8%. Perderam os professores em salário, em respeito e valorização social pois inúmeros depoimentos comprovam que juízes, padres e professores eram, outrora, as maiores autoridades nas cidades e vilas. Podem me contestar que sem dúvida houve uma democratização do ensino, e hoje qualquer criança tem acesso à escola, o que não ocorria antigamente. Sim, mas a que escola têm eles acesso? A uma escola que perdeu os seus objetivos, que não reconhece as suas finalidades? Justamente sobre este aspecto é que vou me deter em primeiro lugar, isto é, sobre as finalidades da escola, para, em seguida, discutir com vocês um segundo aspecto que seria: a procura de uma ética capaz de guiar a ação de formar professores no contexto atual.
publisher Portal de Periódicos Eletrônicos da UFRN
publishDate 1996
url https://periodicos.ufrn.br/educacaoemquestao/article/view/10391
work_keys_str_mv AT moraisgizeldasantanade aeticadaformacaodeprofessoresnumaeducacaodesalariominimo
AT moraisgizeldasantanade eticadaformacaodeprofessoresnumaeducacaodesalariominimo
_version_ 1766682702295072768